Contando com um rebanho bovino de 214,69 milhões de cabeças (2018) em 162,19 milhões de hectares de pasto (taxa de lotação de 1,32 cabeças por hectare), o Brasil apresenta grande destaque na cadeia do agronegócio mundial (http://abiec.com.br/publicacoes/beef-report-2019/).
O controle dos parasitas em bovinos é um importante fator na produção, uma vez que causam grandes perdas econômicas devido a quedas de produtividade, retardo nas idades de abate e reprodutiva, transmissão de doenças, alta morbidade, podendo ocasionar, até mesmo, a morte em alguns animais.
Somadas as perdas potenciais da produção de gado de leite e de gado corte provocadas por parasitas, tem-se um valor estimado de US$ 13,96 bilhões por ano, sendo as verminoses gastrointestinais, os principais causadores destes prejuízos com US$ 7,11 billhões, seguido dos parasitas externos: carrapato do boi com US$ 3,24 bilhões, mosca dos chifres com US$ 2,56 bilhões, bernes com US$ 0,38 bilhões, bicheiras e moscas dos estábulos com US$ 0,34 bilhões cada um.
As tentativas de combate e controle dos parasitas são, na maioria das vezes, realizadas de forma incorreta, sendo fundamentadas no uso contínuo de produtos anti-helmínticos, com uso excessivo de aplicações por ano, aplicações em épocas erradas e uso desordenado de princípios ativos. Assim, tem-se um alto custo de produção, objetivos do controle não alcançados e, ainda, prejuízos mais sérios, como a seleção de organismos aptos a sobreviver ao efeito tóxico dos fármacos, a “famosa” resistência. Aliás, a resistência parasitária em bovinos demonstrada por parasitas internos e externos é atualmente, talvez, o maior entrave para a pecuária comercial nacional e em vários países de regiões e tropicais e sub-tropicais.
Confirmando-se os altos valores destinados ao controle de parasitos, nos dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (SINDAN), verificou-se que a comercialização de antiparasitários foi responsável por uma expressiva parcela do mercado brasileiro de produtos veterinários, com aproximadamente R$ 1,72 bilhões (http://www.sindan.org.br/mercado-brasil-2018/).
Durante o ciclo evolutivo, os estágios pré-parasitários dos nematódeos gastrintestinais no meio ambiente sofrem influência de uma série de fatores, sendo a temperatura e a precipitação pluviométrica, as principais.
De modo sucinto, o ciclo biológico dos nematódeos gastrintestinais, pode ser assim descrito:
As fêmeas adultas realizam a postura diária de ovos, que são conduzidos juntamente com as fezes ao meio ambiente. Em aproximadamente 24 horas, em condições favoráveis de temperatura e umidade relativa, ocorre o desenvolvimento de uma larva dentro do ovo, denominada larva de primeiro estagio (L1). Esta, por sua vez, eclode dos ovos e em seguida começa a se alimentar de bactérias presentes no bolo fecal. Em seguida ocorre a primeira muda, transformando se em larvas de segundo estádio (L2). Estas continuam se alimentando de bactérias do bolo fecal. Uma segunda muda dá origem a larvas de terceiro estádio (L3), que é a forma infectante e que pode sobreviver no ambiente por meses. Ao serem ingeridas pelo ruminante as L3 evoluem e por meio de mais duas mudas atingem a maturidade sexual, reiniciando o ciclo bibológico.
Existem vário esquemas de tratamentos anti-helmínticos:
Curativo: tratamento apenas dos animais que apresentam sinais clínicos de verminose. Tem a desvantagem de permitir perdas produtivas significativas e não há controle efetivo da população parasitária.
Tático: realizado em períodos críticos tais como, período pré-parto, aquisição de novos animais e mudança de animais para novos piquetes, como por exemplo, aqueles que foram usados por Integração – Lavoura – Pecuária.
Seletivo: nem todos os animais do rebanho precisam ser tratados, somente os que apresentam maiores infestações que realmente podem prejudicá-los. A contagem de OPG (ovos por grama de fezes) pode ser um dos critérios a se usar como seleção de quais animais devem ser tratados. Este tipo de tratamento pode reduzir drasticamente a seleção para resistência.
Estratégico: é uma prática de caráter preventivo e baseia-se na epidemiologia das verminoses gastrintestinais. De um modo geral, a recomendação é que os tratamentos devam ser concentrados na época da seca do ano, quando a maioria da população parasitária está nos hospedeiros, havendo uma menor no ambiente. Nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Acre, região centro sul do Amazonas, Pará, Maranhão, grande parte do Piauí, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, a estação seca ocorre nos meses de junho, julho e agosto. Assim, deve-se fazer aplicação de medicamentos veterinários na entrada (maio), meio (julho) e saída (setembro) da seca. Estudos mais recentes demonstraram que o tratamento nos meses de maio, agosto e novembro proporciona uma melhor relação custo benefício, em comparação aos tratamentos anteriores. Neste tipo de tratamento, pensando em animais de corte, o tratamento por categoria animal, deve ser assim adotado:
Bezerros antes da desmama: os bezerros de corte antes do desmame normalmente apresentam poucos problemas de verminose, pois o colostro fornece proteção e a ingestão de pastagem é progressiva a partir dos primeiros meses de vida. Entretanto alguns fatores como a raça, taxa de lotação, condição nutricional, condições climáticas e pluviométricas, podem tornar a verminose um problema grave nesta categoria, devendo ser examinada em cada propriedade. Pesquisas já demonstraram que bezerros que foram medicados entre 3 e 5 meses de idade, tiveram um acréscimo de até 11,7 kg / animal na desmama.
Desmama aos 24 meses: esta é a categoria mais sensível, exigindo maior atenção e tratamentos na entrada, meio e saída de seca, com medicamentos realmente eficazes.
Machos adultos: os touros de serviço podem ser tratados antes da estação de monta, pois, o estresse neste período pode resultar em queda no sistema de defesa e conseqüente aumento do parasitismo. Já, os animais que vão para a terminação, vale a pena conversar com o veterinário que atende a propriedade para ver a real necessidade de se usar um medicamento e qual deve ser usado, levando em conta principalmente, o período de carência, que não pode ser alto.
Fêmeas adultas: nesta categoria, os animais já desenvolveram resposta imune efetiva, o que lhes confere resistência. Mesmo assim, não devem ser desconsideradas, já que mesmo apresentando pequenas cargas parasitárias, podem infestar a pastagem onde ficarão os bezerros. Uma aplicação um mês antes do período de parição., principalmente nas fêmeas primíparas, é recomendado.
Assim, já existindo o problema da resistência helmíntica, em maior ou menor grau, frente aos princípios ativos utilizados, outras medidas de combate e controle devem ser pensadas e mais colocadas em prática. Uma boa nutrição, cuidados com taxas de lotação, limpeza de cochos e bebedouros, pastejo alternado e simultâneo entre ovinos e bovinos, devem ser também adotados para que se tenha um bom controle da verminose nos bovinos. Só assim, teremos uma melhor ação dos princípios ativos por mais tempo nas propriedades.