Publicado em: quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A utilização de leguminosas forrageiras em pastagens de gramíneas é um assunto muito antigo nas regiões temperadas onde ambas, gramíneas e leguminosas, são de mesmo ciclo fotossintético (C3) e convivem em harmonia. Nos trópicos essa mistura é bem mais difícil de ser conseguida pois aqui as gramíneas são de ciclo C4 enquanto que as leguminosas são C3. Assim, as primeiras levam vantagens sobre as outras no uso da água, da temperatura e da luz, além de possuírem uma arquitetura adaptada ao pastejo adquirida durante milênios de pressão de seleção no continente africano. Mesmo com todas as dificuldades acima citadas, lá atrás, no início dos anos 60 Jorge Ramos de Otero conhecido como o” Pai da Agrostologia Brasileira” publicou um livro bastante completo com citações e descrições de inúmeras leguminosas forrageiras bem como indicações de consorciação. Nas décadas de 70 e 80 houve o apogeu da oferta e do uso de leguminosas forrageiras em nossas pastagens. Porém, infelizmente, o material genético ofertado era todo importado e não adaptado aos nossos solos e ao nosso manejo. Tal fato levou rapidamente à descrença nessa mistura e ao quase abandono da pesquisa, produção e oferta de novos cultivares. Atualmente, com várias crises ocorrendo simultaneamente (climática, econômica, cultural) a busca por sustentabilidade leva naturalmente aos pastos consorciados. Para tanto, é necessário investir na prospecção, melhoramento, seleção, testes, produção e oferta de novos cultivares bem como na microbiologia necessária à eficiente e competitiva fixação biológica do nitrogênio atmosférico.

Vantagens do uso de leguminosas Através da simbiose com bactérias, as leguminosas fixam de 100 a 150 kg de Nitrogênio atmosférico por hectare e repassam cerca de 30 % desse total para o sistema do pasto. Elas tornam a pastagem mais sustentável por suprir o insumo mais caro (Nitrogênio) evitando ou diminuindo em muito a necessidade de adubação nitrogenada. Melhoram significativamente a dieta e o valor nutritivo do pasto por possuir elevado teor proteico (20 a 25%). Melhoram a estrutura do solo através do sistema radicular pivotante aproveitando, inclusive, nutrientes das camadas mais profundas do solo. Melhoram a distribuição anual de forragem por vegetar em temperaturas mais amenas e por ser consumida mesmo “passada” devido à eliminação do tanino presente em muitas espécies. Elevam o teor de M.O (matéria orgânica) do solo e propiciam maior proteção contra a erosão, além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

Desvantagens do uso de leguminosas Exigem maior cuidado no manejo do pasto em função do ciclo fotossintético e da arquitetura das plantas. Requerem menor pressão de pastejo devido à ausência ou às poucas gemas basilares e propiciam o aparecimento de insetos como formigas. Elas, em geral, apresentam baixa persistência, há baixa oferta de sementes no mercado e poucas opções. A família Fabaceae (Leguminosae) é riquíssima em espécies (+ ou -16.000) e está bastante presente em nosso país. Portanto, há opções para os mais diferentes nichos ecológicos e para as mais distintas situações de manejo. Desde as rasteiras como o Arachis, passando por arbustivas como Desmanthus e Aeschinomene até as arbóreas como a Leucaena e Prosopis, temos centenas de espécies à disposição para testes e futura utilização. Vale sempre lembrar que a pesquisa com leguminosa deve levar em conta a pesquisa com o Rhizobium pois, muito do insucesso ocorrido anteriormente também se deveu à inadequada inoculação das sementes, seja pelo tamanho reduzido das mesmas, seja pela estirpe que foi inoculada pois, embora apresentasse alta eficiência em fixar o (N) nitrogênio atmosférico, perdia em competitividade para as estirpes nativas no solo que são, em geral, de baixa eficiência. Também é oportuno lembrar a recomendação do CSIRO, Austrália que uma pastagem bem consorciada deve conter uma porcentagem próxima de 30 % em peso seco de leguminosas para que haja pleno aproveitamento da fixação biológica do (N) e um aumento significativo da melhoria nutricional para os animais. Apesar de todas essas dificuldades em se obter e manter uma pastagem consorciada de gramíneas com leguminosas tropicais, sem dúvida o esforço vale muito a pena. Embora o clima seja imutável nas condições das pastagens, o mesmo não podemos dizer quanto ao solo. Assim, é preciso lembrar que as leguminosas são exigentes em fósforo e respondem a esse macro nutriente durante todo o ciclo. Outro elemento importante é o molibdênio sob a forma de molibdato de sódio ou de amônio. O uso de superfosfato molibdenizado é imprescindível em nossos solos para a manutenção de pastagens consorciadas. Já passou da hora de sairmos de nossa zona de conforto por detrás de um saco de adubo nitrogenado para agirmos de maneira ecologicamente sustentável. A pesquisa tecnológica e os departamentos técnicos das empresas de sementes estão capacitados e aptos a desenvolver cultivares de leguminosas forrageiras adaptadas aos diferentes climas, propósitos e manejo.

**Paulo Bardauil Alcantara é graduado em Agronomia pela Universidade de São Paulo (1974) e mestrado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1981). É pesquisador científico VI aposentado da Secretaria de Agricultura e Abastecimento/Instituto de Zootecnia. Atualmente atua como consultor do Grupo Matsuda na área de melhoramento de plantas forrageiras e forragicultura no Brasil, África do Sul, Belize, Austrália, Zâmbia, Zimbábue. **

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